Reflexão pessoal – a perspetiva behaviorista de John Watson

John Watson é considerado o pai da psicologia científica pois demarcou-se de forma radical de toda a psicologia tradicional, que tinha por objetivo o estudo da consciência e por método a introspeção. Não nega a existência da consciência nem a possibilidade do indivíduo se auto-observar, mas considera que os estados de espírito bem como a procura das suas causas só podem interessar ao sujeito no âmbito da sua vida pessoal. De modo simples: o que não se observa não pode ser estudado pela psicologia e tal é o caso dos processos mentais.

Watson considera que com Wundt a psicologia teve uma falsa partida, pois este não foi capaz de romper com as conceções tradicionais derivadas da influência da especulação filosófica (não podemos esquecer que a psicologia fez parte da filosofia e até o primeiro tratado de psicologia do mundo foi escrito pelo filósofo Aristóteles, De Anima). Para se constituir como ciência, a psicologia teve de cortar com todo o seu passado, conceção e método, e constituir-se como ramo objetivo e experimental da ciência. Watson pretendia para a psicologia o mesmo estatuto da biologia. Logo, para se constituir como ciência rigorosa e objectiva, o psicólogo terá de assumir a atitude do cientista, trabalhando com dados provenientes de observações objetivas e acessíveis a qualquer outro observador. O psicólogo terá de renunciar à introspecção e limitar-se à observação externa, à semelhança das outras ciências.

O behaviorismo é uma corrente que define a psicologia como a ciência do comportamento.

Segundo Watson, só se pode estudar directamente o comportamento observável, isto é, a resposta do indivíduo (R) a um dado estímulo (E) do ambiente. E, tal como em qualquer outra ciência, cabe ao psicólogo decompor o seu objecto, o comportamento, nos seus elementos e explicá-los de forma objetiva, recorrendo ao método experimental.

Por estímulo (E) entende-se todo o conjunto de excitações que agem sobre o organismo. O estímulo pode ser assim qualquer elemento ou objeto do meio ou ainda qualquer manifestação interna do organismo. Por exemplo: a picada de uma agulha, contrações do estômago…

Por resposta (R) entende-se todo o conjunto de respostas objetivamente observáveis, ativadas por um conjunto complexo de estímulos, provenientes do meio físico ou social em que o organismo se insere.

Em geral, o comportamento é determinado não por um estímulo, mas por um conjunto complexo de estímulos que se designa por situação. A cada situação corresponde um dado comportamento, isto é, um conjunto de respostas explícitas, que são respostas diretamente observáveis, e implícitas, que são respostas que não são diretamente observáveis, são constituídas pelas respostas viscerais. O comportamento é, assim, determinado por um conjunto complexo de estímulos - a situação - provenientes do meio físico ou social em que o organismo se insere. A cada situação corresponde um dado comportamento, isto é, um conjunto de respostas: o comportamento, a resposta (R) é função (f), isto é, depende da situação (S). O psicólogo, conhecendo o estímulo, deverá ser capaz de prever a resposta e, se conhecer a resposta, deverá poder identificar o estímulo, a situação que a provocou.

Watson defendeu que todo o nosso comportamento é exclusivamente influenciado pela experiência, por fatores sociais e educativos, ou seja, somos produtos do meio, uma vez que somos modelados por ele. Para Watson, nós somos o que fazemos, e o que nós fazemos é o que o meio nos faz fazer.

Watson não nega a existência de fatores hereditários, porém, considera-os irrelevantes na formação da personalidade do indivíduo.

No desenvolvimento da criança, somente os fatores ambientais são determinantes: o desenvolvimento é modelado pela experiência, estimulado pelo meio.

Inicialmente, o Behaviorismo, nomeadamente a teoria do condicionamento clássico de Watson, foi acusado de ser reducionista e de descrever o comportamento humano como o de uma máquina, totalmente desprovido de pensamento. Ou seja, o comportamentalismo inicialmente via o Homem como uma máquina que somente respondia a estímulos ambientais. “Baseando-se numa explicação de tipo estímulo-resposta e de tentativa e erro, esta perspetiva confere grande relevância à repetição, pois é através dela que se aprendem os automatismos necessários a um bom desempenho. O que se visa não é a criatividade, é a capacidade de reprodução, o mais exata possível, da resposta imaginada como desejável pelo experimentador. Contudo, na época em que esta teoria apareceu, e se pensarmos nos contextos educacionais, o behaviorismo teve o mérito de levar os professores a darem mais atenção ao aluno.

O desenvolvimento behaviorista na área da educação deu origem a um método por muitos pedagogos considerado inovador: o método do ensino programado. Vou analisar este método, explicar em que consiste, quais as suas virtudes e os defeitos e eventuais  críticas que se lhe podem apontar.

Influenciado pelos trabalhos de Pavlov e Watson, Skinner passou a estudar o comportamento operante, desenvolvendo intensa atividade no estudo da psicologia da aprendizagem. Esses estudos levaram-no a criar os métodos de ensino programado que podem ser aplicados sem a intervenção direta do professor, através de livros, apostilas ou mesmo máquinas.

Segundo Skinner as pessoas aprendem mais facilmente quando o conteúdo é apresentado em "unidades discretas”, isto é, em pequenos módulos e quando recebem um feedback imediato, indicando se o aluno teve ou não sucesso. O ensino programado leva, assim, o aluno a estudar sem a intervenção direta do professor.

As principais características deste método são:

- A matéria a ser aprendida é apresentada em pequenas partes;

- Estas são seguidas de uma atividade cujo acerto ou erro é imediatamente verificado.

- O estudo é individual, "mas auxiliado pelo professor", sendo  que assim o aluno progride de acordo com a sua própria velocidade.

Em síntese, o ensino programado leva o aluno ao conhecimento e à aprendizagem.

As principais vantagens do Ensino Programado são:

- Cada aluno progride no seu próprio ritmo: quem aprende mais rápido, avança mais. Quem aprende mais devagar, avança na velocidade que lhe é conveniente;

- O aluno avança somente com o conteúdo aprendido;

- O aluno não é deixado para trás ou perdido;

- O ensino é sequencial: o estudante passa para o material mais adiantado somente quando já domina o anterior;

- O aluno quase sempre acerta por causa da progressão gradual e uso de técnicas de insinuação e instigação (estímulos);

- O aluno mantém-se ativo e recebe imediata confirmação de seu êxito;

- Os itens são construídos de tal maneira que o aluno precisa compreender o ponto essencial do conteúdo a fim de dar a resposta certa;

- Os "conceitos" são representados por muitos exemplos e arranjos sintácticos, visando aumentar a generalização a outras possíveis situações;

- O registo das respostas dos estudantes fornece ao programador valiosas informações para futuros aperfeiçoamentos do programa.

As principais desvantagens são:

- É socialmente isolador: os alunos fecham-se no seu próprio mundo privado enquanto aprendem;

- Faltam benefícios da experiência em grupo;

- O aluno não tem opção de discordar;

- Como o ensino é baseado numa hierarquia de conceitos fica difícil a aplicação deste método em áreas onde os conceitos não são tão claramente definidos, pois este método fundamenta-se em ter sempre uma resposta certa.

No entanto, encarando apenas o diretamente observável ignoram-se as crenças, os interesses, as expetativas, os desejos, as emoções.” Se reduzirmos tudo o que pode ser estudado ao que é objetivamente observável, no caso, as respostas de um aluno, isto mostra que a perspetiva behaviorista se mostrou insuficiente, pois o processo de aprendizagem é bastante complexo, sendo que os elementos cognitivos, sociais e afetivos não existem separadamente. Deste modo, esta explicação, por si só, seria bastante incompleta, evidenciando o seu reducionismo. O aspeto associado aos processos mentais, como o raciocínio que um aluno realiza para resolver um problema em sala de aula, ou a motivação para aprender, é pura e simplesmente desprezado. Os psicólogos da linha cognitivista são por isso mesmo os principais críticos dos behavioristas.

Outra crítica apontada ao behaviorismo é “a existência de um número de tal modo vasto de objetivos que, rapidamente, se tornam impossíveis de gerir pelo docente”. Em vez de discriminar de modo claro o que se pretende observar, cada comportamento é analiticamente descrito, o que torna praticamente impossível obter uma visão global de um conjunto de objetivos de aprendizagem.

 

Concluindo, na minha opinião apesar dos exageros reducionistas de Watson, o behaviorismo foi um movimento revolucionário que contribuiu de forma decisiva para a constituição da psicologia como ciência. Os contributos de Watson a favor da objetividade na psicologia foram bem recebidos pelos psicólogos norte-americanos. Esta aceitação deve-se, sobretudo, à definição inequívoca do seu objeto, o comportamento observável, e o seu método experimental.

Todavia, a necessidade de demarcação conduziu os behavioristas a uma conceção limitada e simplista de comportamento. Ao reduzir a interpretação do comportamento à relação E-R, muitas condutas ficam por explicar, por exemplo, eu não bebo quando vejo água - é uma situação interna que desencadeia o comportamento.

O behaviorismo foi uma corrente de psicologia muito influente na comunidade científica norte-americana, sobretudo com Skinner, que desenvolveu a conceção de Watson para uma reformulação designada por condicionamento operante.

 

 

Bibliografia:

+ Rodrigues, Luís (2009) Psicologia B. Lisboa: Plátano Editora, pp.230-236

https://www.prof2000.pt/users/rebelo/trabfinal/bea.htm

https://angela-lopes.blogspot.pt/2007/11/segundo-skinner-que-criou-o-ensino.html