Reflexão Pessoal - A Genética

O ramo da psicologia que se dedica á investigação das influências hereditárias no comportamento é a genética do comportamento.

A hereditariedade é a totalidade das caraterísticas transmitidas pelos pais à sua descendência.

Costuma distinguir-se hereditariedade específica e hereditariedade individual.

Hereditariedade específica é o conjunto de caraterísticas comuns aos indivíduos de uma espécie e que os diferencia de todas as outras espécies. Assim, os descendentes de determinada espécie herdam as caraterísticas próprias da espécie dos seus progenitores. Por exemplo, os gatos só podem ser filhos de gatos, facto que lhes assegura a transmissão de um conjunto de caraterísticas físicas e comportamentais que os diferencia dos pássaros, dos cães ou dos seres humanos.

Por outro lado, hereditariedade individual é o conjunto único de caraterísticas herdadas por um individuo e que o distingue de todos os outros indivíduos.

Os genes determinam muito do curso do desenvolvimento do organismo: se será macho ou fêmea, homem ou macaco, minhoca ou caracol.

Os genes são os responsáveis pelo aparecimento, no individuo, de todas as caraterísticas. Algumas devem-se à combinação de apenas um par de genes, um proveniente do gâmeta masculino e outro do gâmeta feminino. É o caso da cor dos olhos, da cor dos cabelos e do Rh sanguíneo.

Na maioria dos casos, porém, as caraterísticas individuais provêm da combinação de vários pares de genes. É o que acontece com a cor da pele e a estatura. Devido às múltiplas combinações possíveis, torna-se difícil a previsão do aparecimento dos carateres. É que os cromossomas possuem milhares de genes que podem combinar-se de numerosíssimas formas, facto que nos explica a diversidade existente entre os seres humanos. De facto, podemos afirmar que não há dois indivíduos de constituição igual na espécie humana, salvo no caso dos gémeos monozigóticos.

Durante a transmissão de uma caraterística física, é necessário fazer distinção entre gene dominante e gene recessivo.

Gene dominante é aquele que produz efeito mesmo que esteja presente em apenas um dos cromossomas do par.

Gene recessivo é aquele que só produz efeito quando está presente nos dois cromossomas do par.

Posto isto decidi focar a minha reflexão na área da clonagem reprodutiva.

A clonagem reprodutiva, visando a multiplicação dos seres vivos, exige que o embrião passe por uma estadia num útero, para se poder desenvolver.

Diferentemente da clonagem natural, presente na multiplicação de bactérias, na reprodução de outros seres unicelulares e na disseminação de certas espécies de relva dos jardins, o processo que aqui interessa mencionar é o da clonagem artificialmente induzida. Fundamentalmente, a clonagem induzida consegue-se pelo recurso a uma técnica conhecida nos meios científicos por transferência nuclear da célula somática.

A transferência nuclear da célula somática começa com a retirada do núcleo a um ovulo (célula recipiente), substituindo-o pelo núcleo de uma célula somática do ser vivo que se visa duplicar. As duas células fundem-se numa só, transformando-se num embrião que, introduzido num útero feminino, se desenvolverá para dar origem a um novo ser. Este apresenta as mesmas características do dador da célula somática de que se aproveitou o núcleo. Como sabemos, é neste que residem os cromossomas e os genes constituídos de ácido desoxirribonucleico, agente portador e transmissor da informação hereditária.

Foi por este processo que, em 1997, o investigador inglês Ian Wilmut, liderando uma equipa de cientistas escoceses, conseguiu clonar a ovelha Dolly, partindo de uma célula somática extraída de uma glândula mamária de uma outra ovelha de seis anos de idade.

Aproveitando o núcleo desta célula, foi implantado numa outra célula anucleada (célula recipiente), formando-se, assim, um embrião. Este foi transferido depois para o útero de uma terceira ovelha, onde se multiplicou, desenvolveu e, finalmente, deu origem à Dolly.

A clonagem da Dolly representa uma experiencia bem sucedida, depois de 276 tentativas falhadas.

As principais vantagens que a clonagem disponibiliza ao homem são:

  • Reconciliação de muitos casais com a vida, depois de terem passado pelo sofrimento psíquico e emocional do complexo da infertilidade;
  • Redução das hipóteses de aparecimento de certas doenças genéticas;
  • Diminuição das vítimas de ataques cardíacos;
  • Extinção de problemas de cirurgia plástica e estética;
  • Possibilidade de tornar saudáveis muitos tetraplégicos;
  • Rejuvenescimento do organismo.

Em paralelo com estes aspetos positivos, há quem aponte riscos da clonagem que podem afetar o ser humano:

  • O processo de clonagem é ainda incipiente, podendo ser vista como um atentado à vida;
  • As experiencias realizadas mostram que os seres clonados não gozam de grande saúde nem têm uma longa esperança de vida;
  • A formatação genética conseguida pela clonagem conduz à uniformização ou massificação das características dos seres clonados;
  • A clonagem pode causar nas pessoas problemas emocionais e psicológicos relacionados com a crise de identidade;
  • Pode causar o aparecimento de um mercado ilegal de doadores de células;
  • Existe sempre o risco de reanimar o fantasma do ideal eugénico, isto é, concretizar o “sonho de H…” e tentar criar uma “raça perfeita” de seres humanos. A eugenia foi uma crença aceite a partir de uma biologia falsa e que teve nos chamados “darwinistas socias” a propaganda de influenciar a opinião pública.

 

A clonagem é um dos temas que tem originado maior divisão da sociedade atual. Atualmente somos confrontados com diversas opiniões sobre a clonagem, sem que, nenhuma delas seja perfeitamente aceite e correta. Torna-se, então, imprescindível fazer uma abordagem clara e precisa acerca de um assunto tão controverso como a clonagem.

Após a realização desta pequena investigação e da observação do documentário sobre a clonagem, na minha opinião, esta apresenta duas faces, cada uma com características completamente distintas.

Dentro de uma sociedade em que as doenças parecem reinar perante as terapias, torna-se, de facto, indispensável encontrar meios para que tal situação se inverta. Com a clonagem de embriões poder-se-ão obter células-mães a partir das quais se poderão fabricar órgãos e tecidos. Quantas serão as pessoas beneficiadas com estas técnicas? Em certos casos é afirmado por parte da comunidade científica que a clonagem permitirá combater o cancro. Sendo o cancro uma das doenças mais perigosas do nosso mundo, porque não abrir portas à clonagem?

De facto, estes benefícios são muito importantes tendo em conta somente os avanços científicos.

Por outro lado, analisando a clonagem sob o ponto de vista ético e moral verifica-se que o avanço da clonagem de embriões humanos é verdadeiramente contra a ética, podendo afirmar-se que a clonagem se encontra nos limites da ética. Ninguém sabe qual é o êxito da clonagem! Qual será a condição de um bebé clonado? Será que viverá com boa saúde? Não será correto “produzir” em laboratório um ser humano com a mesma informação genética de outro, disso não restam dúvidas. Nós, seres humanos, não temos o direito de clonar um bebé com a simples razão de ser necessário para avançar a ciência e de encontrar terapias eficazes. Sob este ponto de vista, a clonagem é, de facto, uma “irresponsabilidade criminosa” e não poderá ser apoiada e promovida. Pensemos, quais são as consequências se esta prática cair nas mãos de terroristas? Tal como se podem descobrir terapias a partir da clonagem, também se poderão criar novas doenças. Qual seria então o efeito se tal acontecesse? Na minha opinião certamente seria devastador!

Por fim, perante tal assunto e tal polémica, torna-se extremamente importante que se encontre um ponto convergente, para que, tanto os interesses morais e éticos, não sejam verdadeiramente prejudiciais. Terão de ser analisadas todas as ideias a este respeito, porque uma vez aberta a porta a uma prática científica como a clonagem será completamente impossível expulsá-la de casa.

Não se pode defender de modo razoável que tudo o que é tecnologicamente possível deve ser eticamente permitido. Há limites éticos que não devem ser ultrapassados. O problema reside em descobrir quais são esses limites e por isso a discussão ética continua acesa e em aberto.

 

 

Bibliografia:

ABRUNHOSA, MARIA ANTÓNIA; LEITÃO, MIGUEL (2001) - 12º Psicologia, volume 1 (areal editores);

ABRUNHOSA, MARIA ANTÓNIA; LEITÃO, MIGUEL (2009) – 12º Psicologia B, volume 1 (Edições ASA)